Feco Hamburger

As Razões de um deslumbramento

François Soulages As Razões de um deslumbramento

François Soulages

O trabalho de Feco Hamburger renova a problemática do suporte da imagem: como melhor interrogá-la? Ele criou uma máquina que se parece com uma guilhotina e que permite fabricar uma bolha de sabão durável por um instante. É o olhador que pode manipular essa máquina. Quando se faz a bolha, projeta-se uma imagem, formada ou deformada – diriam os que não entendem nada de imagem – pela reunião do feixe luminoso e da bolha antes de estourar.

Como melhor significar a fragilidade de toda imagem que depende da reunião improvável de uma projeção luminosa, de um suporte, de um olhador, mas também do criador e do fabricante da imagem, nesse caso o artista? Qual imagem seria melhor que o aspecto efêmero da imagem e da vida em geral? Qual distinção fazer com os fluxos de imagens que a internet e a televisão despejam de modo ininterrupto, a ponto de nos embriagar com esse fluxo ? Aqui, a imagem pode ser contemplada não pela eternidade, mas com uma duração que ninguém conhece: há, então, urgência de ver. E esse ver é dado em um fazer: o que poderia ser mais maravilhoso do que essa fonte de poesia? Poesia estranha, se a gente pensa que a máquina parece dar a luz a imagem e ao mesmo tempo matá-la.

Guilhotina icônica que simboliza o tempo que passa e nos obriga a lembrar que a maioria das imagens tem como vocação a perda e o desaparecimento. Um pouco como os pintores de Lascaux, que, claro, nos deixam ver os restos de uma cerimônia pictural, mas certamente de outra ordem, e sobretudo, que nos lembram que milhões de imagens devem ter sido feitas há dez mil anos e que não restou nada delas. Para sempre. Confronto com o nada e a aniquilação, que é o destino obrigatório de toda imagem quando se olha o mundo na escala do Universo, mesmo sendo digital.

Vaidade das imagens? Talvez. Ou, ao contrário, e correlativamente, convite a olhá-las intensamente, pois tudo passa. A imagem é do passado aparentemente conservado no nosso presente, mas que, irremediavelmente, sem cura, voltará ao passado. Se morrer é porque está viva. Morte e vida das imagens, como dizia o outro.

in Geração 00, A Nova Fotografia Brasileira, Org. Eder Chiodetto, São Paulo, Edições Sesc São Paulo, 2013

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