Agnaldo Farias
Os limites espaço-temporais da nossa percepção, condenada ao que se alcança com os olhos e ouvidos confinados num horizonte circular e fincados no presente, geram como reação o fabrico de mapas e modelos de toda ordem. Nada mais que a expressão de um desejo atávico pelo controle das coisas, sejam elas aéreas, territoriais, geográficas, políticas, corpos biológicos; o impulso transborda sobre o corpo do mundo, no que dele é visível e invisível, e vai muito além dele. Descrever ou simplesmente nomear algo implica uma forma ainda que insubstancial de captura. Não se mapeia apenas o que se vê, mas mapeia-se para se ver melhor. Como explica Paul Valéry, em seu ensaio sobre Degas, “há uma imensa diferença entre ver uma coisa sem o lapis na mão e vê-la desenhando-a”.
ALMA – Experiência Mediada, nasceu do Atacama Large Millimeter and sub-millimeter Array – ALMA, o maior telescópio terrestre do mundo, formado por 50 antenas situadas a 5000 metros de altitude, no Chile. Feco Hamburger colheu as imagens no próprio site do projeto e, em cada uma, interveio com números, equações e diagramas, a rigor a modalidade de informação visual produzida pelo próprio telescópio. O artista olha dentro e fora do gigantesco dispositivo, enquanto este olha o universo.
in Mapas Cartas Guias e Portulanos, Perfil Cultural, Brasil, 2016